quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

MATOSINHOS TERRA DE PESCADORES E PEIXE…DO MELHOR!

Desafiado para escrever umas notas sobre o que penso e o que vivi como matosinhense, acerca da atividade pesqueira e o modo com teve e tem uma importância fundamental para as gentes de Matosinhos, resolvi então fazer um histórico das minhas impressões pessoais e aqui as deixo á consideração de quem as ler…
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Nos anos 50 e 60, a indústria pesqueira em Matosinhos estava no seu auge, com fábricas conserveiras por todo o lado, laborando em pleno, com muita mão-de-obra essencialmente feminina, e no mar as embarcações na sua labuta diária iam e vinham, fornecendo a matéria-prima para que as conservas fizessem jus á sua qualidade bem demandada tanto no território nacional, como por muitos países de diferentes continentes. Além das fábricas de conservas, havia também em Matosinhos na Avenida Meneres a célebre “Fábrica da Tripa”, que tratava dos resíduos que derivavam em farinhas e produtos industriais. Conforma a célebre máxima de Lavoisier, “Na Natureza nada se perde, tudo se transforma”, mas que tinha inconvenientes ambientais muito sérios para toda a cidade, com o seu “odor”, inconfundível, que nos fazia andar de lenço perto da boca.
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Desativada nos anos 80, numa fase final de quase desaparecimento de todos os edifícios que a esta indústria se dedicavam, Matosinhos mudou o seu “ambiente” para melhor, mas com muitos sacrifícios para quem fazia destas atividades industriais o seu ganha-pão. Nos dias de hoje só dois ou três sobreviventes fazem pela vida.
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Mas o que eu quero realçar nestas minhas palavras foi o que eu vivi e vi de perto, no contexto das pescas e das pessoas que faziam desta sua labuta pesqueira. A começar pelas fábricas plantadas na agora denominada zona Sul de Matosinhos e o modo como nesses tempos convivíamos, eu e os meus companheiros de infância, quando desafiávamos as conserveiras para trocas amigáveis de piropos, e que neste vai e vem, dariam se gravadas, temas aliciantes para uns bons filmes. De língua afiada e pronta, as respostas aos nossos desafios e provocações, exigiam que eu e os meus companheiros tivéssemos arranques rápidos em retiradas estratégicas, perante o "carinho" das mulheres que nos destinavam, numa linguagem “nobre” e bem portuguesa, e para nós era um gozo de grandes e saborosas brincadeiras que nos proporcionaram…
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Outra faceta que gostava especialmente era assistir á chegada das traineiras aos cais na descarga dos cabazes, na altura ainda sem os requisitos de modernidade, vendo os carregadores com as varas e cabazes aos ombros a serem retirados para terra e para a Lota num trabalho muito difícil e que deveria ser cansativo para os seus trabalhadores…E nós quase por brincadeira lá íamos tirando uma sardinha aqui outra a li, para levarmos como troféus, para casa ou para dar a alguém, depois de “fintarmos" na portaria os agentes da Policia Marítima que controlavam as entradas e saídas, nunca falhando nas nossas aventuras!
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Mais tarde já adulto tive a coincidência de casar com uma filha de um mestre de traineira "Mar dos Sonhos" de seu nome, o que me possibilitou viver agora a sério, com o seu dia-a-dia e aí sim, medir bem da dureza de uma profissão não muito desejada por muitos, apenas vivida por todos aqueles que por tradição e laços familiares, lá iam fazendo parte dessas tripulações na pescaria das sardinhas e outros peixes que às redes demandavam. Inclusive fui uma noite a meu pedido, partilhar ao vivo o que era uma jornada na pesca da sardinha com o meu sogro no comando e a explicar-me passo a passo o que se desenrolava até ao lanço das redes após a localização do cardume mais adequado. Também me assistiu mal deixamos o porto de Leixões para trás, no meu enjoo fatal, e que durou até eu não ter mais nada para vomitar, a não ser as minhas revoltas tripas, ou seja até às duas da manhã e ai sim recuperando a pouco e pouco como um verdadeiro lobo-do-mar, pude assistir em direto a toda a faina. Na volta pela manhãzinha, acho que por tão desperto e operacional que estava, poderia começar a ir ao mar todos os dias que não enjoava mais.
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Hoje nos nossos dias e após a integração de Portugal a CEE e com a redução brutal das cotas de pesca, a frota das nossas pescas, vai sobrevivendo como pode, inclusive com as medidas cautelares que visam proteger a reprodução das espécies, vivendo cada vez mais apertados na sua rentabilidade piscatória. Tempos difíceis que espero melhorem, porque é uma atividade profissional de grande valia para Portugal e os seus pescadores…
É esta a minha visão sobre a pesca da sardinha em MATOSINHOS e que entrelaça com visões românticas e outras mais reais e duras de quem por lá labuta todos os dias…

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